Quantos viram?

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pare

          Começo esse texto dizendo que chega um momento na vida da gente que é preciso parar. Pare.


          Depois de muito tempo observando minha vida e as pessoas com as quais eu convivo, percebi que somos carentes de paradas, curtas ou longas, precisamos delas. Estamos afoitos por status, dinheiro, amor... e todas as outras coisas que fazem parte do conceito falido do ser humano do que é ter uma vida feliz. Mas eu aprendi que uma vida realmente feliz só é possível quando a gente para.
         Parada aqui neste momento, por exemplo, posso dizer a você que precisa parar de se importar, parar de dar soco em ponta de faca, parar de tampar o sol com a peneira, parar de adiar o inadiável, parar de empurrar com a barriga, mas, principalmente, dizer que precisa parar para pensar e respirar.
          É que quando a gente para, a vida fica mais leve, sabe?
          O tempo não para, eu sei, mas é tempo de parar, porque assim como a música é feita de som e silêncio, eu e você somos feitos de movimentos e paradas.
          Afinal, o que é melhor? Ir mais rápido ou chegar mais longe?
          Por isso, pare.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Confissão

Abri as portas da sensibilidade para o mundo e foi como se pudesse sentir as ondas sonoras que o coração produz quando pulsa, como se pudesse identificar todas as notas dessa canção que é viver. Descobri que sobreviver é a pior das mortes, porque a vida se desdobra em viver e a sobrevida é apenas uma luta para manter os olhos abertos, prefiro olhos fechados com sensação de dever cumprido, de vida vivida por inteiro. Cada 'não' foi uma experiência de morte, morte de amor, morte de desejos, de decepções,  de possibilidades e de tudo aquilo que eu queria ser. Mas precisei completamente de todas as minhas pequenas mortes para que eu pudesse renascer com mais vida, quantas vidas ainda tenho?


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Da entrega


Ei! Não se aquiete... Vai sentindo os sabores, os cheiros e o frescor que a vida tem. Não se aquiete!
Inventa suas histórias, guarda seus medos e se entrega. Tem uma alegria inteirinha aí na sua frente, esperando você agarrar com força e não soltar mais.
Complete-se. Não seja arrimo de ninguém. Não seja a metade de ninguém. Seja um inteiro transbordado a ponto de distribuir-se.
Doe a quem queira, doe-se a quem mereça.

Incógnita

Existe ócio produtivo?
Existe amor sem sorriso?
De que são feitas as ruas
Do infinito vazio em que piso?



sábado, 2 de agosto de 2014

Lei


Sancionado o desinteresse, não há decreto que restabeleça o apreço.
Nas ruínas de um coração entregue, o fim vira recomeço.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

A quem tem ânsia

O apreço que permanece depois da pausa é mérito do esforço dos corajosos. Já não há de fazer sentido o que se é passível de sentir. E só os corajosos sentem. Não conhece a coragem que tem... ou esconde-a (?). Não sabe ter a cor que a coragem dá... ou camufla-a (?). Deixa escorrer por entre os dedos o que tinha força pra atar, emburrece, emburra, faz birra, endurece. Lança à própria sorte a coragem que vida te dá, mania de ser infeliz (?). Se acostumou assim, desacostuma. Anda logo. Larga a lógica, nada é lógico. Tudo é relativo e é relógio. É tempo. Se quer uma lição, aqui vai: largou a coragem, escondeu-se, camuflou o que não deveria, deixou escorrer a alegria, foi lógica e perdeu o relógio, perdeu o tempo, não soube ser feliz. Aprende.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Descartável

Uma pergunta que não me sai da cabeça é: Por que as pessoas se desfazem umas das outras como se fossem objetos descartáveis?

Não sei se em um tempo que não vivi as coisas eram diferentes, mas nos meus... chega a ser sufocante o exagero da falta de amor.

Eu gostaria de ser dotada dessa facilidade de esquecer, de não me importar e de descartar, pois tenho ido na contra-mão da humanidade. Sim, tenho ido na contra-mão porque eu me importo, eu prezo as relações que construo, as pessoas que adquiro. Cada pessoa é única para mim. Independente do tipo de vínculo que estabelecemos, eu prezo por elas. Por isso, mais uma das infinitas perguntas que me fazem viver na incompletude (segundo Clarice Lispector, pessoas que se questionam muito são incompletas): será que estou errada?

Não queria viver no mundo do desafeto, da falta de sinceridade e da falta de zêlo, mas se é o que tenho, me resta a adaptação. Me resta descartar os contatos do celular, me resta descartar as mensagens e me resta descartar as lembranças até conseguir descartar o sentimento. Infelizmente para o sentimento não tem botão.

Realmente são tempos difíceis para os sonhadores.

 A sorte é que tenho as palavras, a escrita. Que sorte eu tenho! Às vezes chego a sentir que palavras são gente, até mais gente que a gente mesmo. São mais humanas que as pessoas.

E sabe de uma coisa? Pessoas podem até descartar umas às outras, mas na maioria das vezes o descartável é também reciclável.

 Portanto, se te descartarem, recicle-se.