Quantos viram?

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Descartável

Uma pergunta que não me sai da cabeça é: Por que as pessoas se desfazem umas das outras como se fossem objetos descartáveis?

Não sei se em um tempo que não vivi as coisas eram diferentes, mas nos meus... chega a ser sufocante o exagero da falta de amor.

Eu gostaria de ser dotada dessa facilidade de esquecer, de não me importar e de descartar, pois tenho ido na contra-mão da humanidade. Sim, tenho ido na contra-mão porque eu me importo, eu prezo as relações que construo, as pessoas que adquiro. Cada pessoa é única para mim. Independente do tipo de vínculo que estabelecemos, eu prezo por elas. Por isso, mais uma das infinitas perguntas que me fazem viver na incompletude (segundo Clarice Lispector, pessoas que se questionam muito são incompletas): será que estou errada?

Não queria viver no mundo do desafeto, da falta de sinceridade e da falta de zêlo, mas se é o que tenho, me resta a adaptação. Me resta descartar os contatos do celular, me resta descartar as mensagens e me resta descartar as lembranças até conseguir descartar o sentimento. Infelizmente para o sentimento não tem botão.

Realmente são tempos difíceis para os sonhadores.

 A sorte é que tenho as palavras, a escrita. Que sorte eu tenho! Às vezes chego a sentir que palavras são gente, até mais gente que a gente mesmo. São mais humanas que as pessoas.

E sabe de uma coisa? Pessoas podem até descartar umas às outras, mas na maioria das vezes o descartável é também reciclável.

 Portanto, se te descartarem, recicle-se. 


terça-feira, 22 de abril de 2014

Coração

Coração é uma coisa complicada. Aprende e desaprende, desprende e reaprende a amar, se entrega à tempestade, destemido, e depois...tem que engolir o orgulho e aceitar o futuro que ele mesmo plantou, delegando ao destino a culpa de suas frustrações. Ah, coração... nos vira de ponta-cabeça e nos faz perder o ar, tomando o lugar do cérebro e controlando nossos sentidos. A gente olha diferente, a gente respira diferente, os sabores não são mais os mesmos e os toques nos despertam mais intensamente.

Se a gente pudesse mandar no coração, mandaria, mas ele é ousado e independente, se faz forte e quer fazer valer sua vontade. Mas na hora das consequências...

Se não houvesse consequências para as coisas do coração, tudo seria mais fácil. Ele poderia viver desse jeito, se apaixonando. E quando os caminhos indicassem nova direção, partiria sem sofrer. Mas não. Ele é inconsequente, vive na juventude, acha que tudo pode e nos prega peças

Chega uma hora que a gente pode aprender a deixar a razão dominar, mas não é facil. Para chegar lá é preciso uma boa dose de sofrimento, provocar quase que uma necrose cardíaca. A gente tem que esmagar o coração até o limite, procurar relações falidas a todo instante e depois esperar o resultado. Deixar cicatrizar sem remédio e aí o bendito fica tão calejado que qualquer sinal de aproximação é motivo para que ele acione o sistema de afastamento. Mas que graça tem?

Que graça tem não sentir mais o coração acelerar? Que graça tem não se entregar por completo e sentir tudo o que uma paixão, um amor, um romance bom pode nos trazer? Aquele arrepio na nuca... aquele resfriamento interno que ninguém sabe explicar... a sensação de estar perto do céu...

Algumas pessoas preferem não se entregar. Por medo de serem julgadas, por medo de sofrerem, por medo de terem que tentar até acertar. Outras (minha categoria preferida) não temem sentir cada instante e armazenarem em si todos os momentos únicos e indefiníveis que o coração pode trazer. Sabe-se que algumas coisas não foram feitas para darem certo, mas e daí?

Deixa rolar... viva esse coração que está aí pronto pra te fazer voar. Se doe, faça o melhor de si e depois a vida se encarrega de colocar no lugar tudo o que ficou bagunçado.

Deixa sim seu coração mandar, deixa ele fazer por você o que você jamais faria, porque se acontecer é porque é momento certo e se o momento certo não trouxer o que você acha certo, aceite de bom grado, pois você vai aprender a amar mais do que imagina.

Pode parecer bobagem, maluquice, mas o coração é isso. Processos infinitos de acertos e erros que, no final, dará a você sempre um motivo para lembrar e sorrir.

Pequeno

Mundo pequeno...
Era um toco
Um canto
Feito de magia e encanto
Que o menino corria num sopro

Mundo pequeno...
Era um verso
Reverso e disperso
Guardado no peito
De um tamanho tanto

E nesse mundo pequeno
Das coisas de riso santo
A miudeza era enorme,
De causar espanto

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cheiro

O cheiro dele ficou na roupa dela. Em cada centímetro de seus cabelos. E mesmo depois do banho, do perfumar-se e do passar do dia, o aroma persistia.

Para ela os cheiros são como tatuagens: ferem, cicatrizam, às vezes coloridos, outras em preto, mas não saem mais, são eternos até que outros cheiros aflorem.

O cheiro dele ficou tatuado nela. Doce, intenso, entregue.

Ressinestesializando-me

Tudo muda. Cada coisa a seu tempo, mas tudo muda. Isso é um fato.

Eu não sou a mesma de ontem e, com certeza, não serei a mesma amanhã, ambiciosamente eu quero ser mais: mais amor, mais amizade, mais sinestesia.

Preciso sentir tudo, os cheiros, os sabores, os toques, os olhares, os sons... adoro abusar dos meus sentidos e é por isso que falo de sinestesia. Não sei profundamente seu significado científico, mas no mundo que inventei para mim, a sinestesia é fundamental, é a minha forma de estar conectada, completa e feliz.

Essa mudança de que falo, de acordo com um raciocínio muito particular, vem da sinestesia. Nós sentimos, identificamos, experimentamos e se não gostamos, mudamos. E se gostamos, queremos mais e, portanto, mudamos também. Então concluo que as mudanças mais significativas partem da sinestesia. 

Nesse mundo virtualizado em que estamos vivendo, as sensações reais são privilégios de poucos, talvez seja por isso que, pelo menos para mim, as coisas parecem não ter mais a intensidade de antes. Quando me virtualizei, guardei parte da sinestesia no armário.

Mas agora resolvi tirar o pó da probrezinha e usá-la novamente. Confesso que precisei de um tanto de coragem, pois estou fazendo o caminho inverso da maioria das pessoas. Se isso é bom eu não sei, mas não custa tentar. Desbravar novos caminhos é vital para mim.

Portanto, RESINESTESIAR-ME-EI!!!!!!