Quantos viram?

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Redundância

É sobre você, de novo. E sobre essa redundância crônica que me atormenta, como as assombrações me atormentariam se eu acreditasse nelas.
É sobre você, porque se também é sobre a redundância, bem, só pode ser sobre você. Você é redundante em mim, nos meus pensamentos, principalmente naqueles que envolvem coisas impossíveis, tipo nós dois.
E como é redundante, eu penso todo dia (toda hora, a qualquer minuto, ou em todos eles?).
E até são redundantes minhas tentativas de me livrar de você. Sempre a mesma vontade, sobre a mesma pessoa, apenas com palavras diferentes, mas com o mesmo propósito. Redundante.
Redundâncias deixam o texto pobre e  a língua cansada, mas o coração as adora. O coração que eu gostaria de ter, não. O que eu tenho só vive delas, e de você.
Mas se esse texto era sobre você, e sobre redundâncias, se você é a própria redundância, e se eu digo que meu coração só vive de redundâncias, não seria redundante dizer "e de você"? Não responde. Eu já sei.
Redundante.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Meti o Bedelho

Certa vez, quando muito criança, conheci um tal de Bedelho. Ele tinha minha idade, falava pelos cotovelos e tinha ideias geniais, por isso nos demos bem desde o dia em que nos encontramos.
Ele era daquelas pessoas que sabiam de tudo um pouco, daquelas que sempre dão um jeitinho em tudo. Apesar disso, Bedelho era absolutamente manipulável, posso dizer que sua aparência era até bem próxima a de uma marionete.
Por nossa tamanha afinidade, Bedelho se entregou a mim de tal forma que, sendo meu, comecei a metê-lo onde me dava vontade. Primeiro meti o Bedelho nas rodinhas de cantiga no jardim de infância, se o pessoal desafinasse, eu logo metia o Bedelho. Depois, já mais observadora, quando a professora fazia chamada oral questionando tabuada, na complicação do 7x7, se alguém errasse o resultado...  Lá estava eu convocando a honorável participação do Bedelho.
Eu e o Bedelho éramos inseparáveis, mesmo com as pessoas olhando para ele com ares de desaprovação, fazíamos tudo juntos...
Eis que um dia, D. Margarida, a professora de Matemática, fez algo terrível. Algo que mudaria o meu destino e o do Bedelho pra sempre.
Era 23 de junho, perto das férias de inverno, eu estava na quarta série. Aquela seria a última chamada oral do semestre, quem não conseguisse nota ficaria na escola durante as férias, e pensar nisso era mais aterrorizante que os filmes do Hitchcock.
Sentada na primeira carteira da terceira fileira, com o Bedelho ao lado, sentia as respirações ofegantes dos colegas preocupados com a tabuada do 7, e tive a ligeira impressão que a presença do Bedelho não os deixava menos preocupados, apesar de ser este o motivo de levá-lo.
Então, D. Margarida começou a chamada. Eu e o Bedelho estávamos muito ansiosos, por isso, vez ou outra, quando alguém errava, eu tratava de meter o Bedelho. E, nossa! Como o Bedelho ficava feliz.
Eu já havia metido o Bedelho umas cinco ou seis vezes, quando escutei o estrondo de uma explosão que deve ter alcançado uns nove pontos na escala Richter. Virava-me lentamente ao ritmo do "Cheeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeega!!!!" da D. Margarida, quando senti aquelas mãos suadas e trêmulas agarrando meu braço e me levando pra frente da sala:
- Natália! Já chega! Ninguém mais agüenta você metendo o Bedelho desta forma! Pare de meter o Bedelho, e pare já! É falta de educação! Atrapalha! Deixa a mim e a todos na escola nervosos. Está insuportável!!!! Nunca mais faça isso! Está proibida! Não meta mais o Bedelho onde não é chamada!
Amigos, eu tinha dez anos, a repressão e a ditadura já tinham acabado, mas em pleno século XX, essa pessoa que vos fala, sofria a pior das repressões que uma criança de dez anos poderia sofrer: proibida de meter o Bedelho.
Vi o Bedelho diminuir ao tamanho de uma ervilha, de tanta vergonha. A D. Margarida havia humilhado o Bedelho e dilacerado o coração de meu amigo, reduzindo-o a nada e colocando-o à beira da inutilidade existencial. E eu não entendia o motivo de tanto descontentamento em relação a ele, pois ao questioná-la, ela mesma admitiu que todas as vezes que meti o Bedelho estávamos dizendo as coisas certas (mas é claro, nunca meti o Bedelho em lugares que eu não conhecia).
Eu e o Bedelho saímos arrasados, ele chorava sem parar, inconsolável.
 Chegando a casa, corri para pedir socorro à única pessoa que saberia me ajudar, minha mãe.
Contei a ela o ocorrido, e também que o Bedelho planejava ir embora, disse que eu não metia o Bedelho por mal, era só quando eu e ele percebíamos que alguém precisava de ajuda, era só pra ajudar.
Muito sábia, minha mãe disse que eu tinha que preservar o Bedelho, pois nem todo mundo entenderia o quanto ele era especial e, portanto, eu deveria usá- lo apenas com pessoas que entendessem a real função dele. Disse que o Bedelho era muito inteligente, mas que eu não deveria mais metê-lo com tanta frequência para que ele não se machucasse.
Deus! Eu estava matando o Bedelho e não sabia.
Depois de ouvir os conselhos da minha mãe, fui para o quarto e conversei com o Bedelho. Falei a ele que não ficasse chateado, pois eu passaria a levá-lo para a escola apenas quando tivesse aula de artes, pois na aula da D. Dorotéia ela adorava quem metesse o Bedelho. Expliquei que eu não queria mais machucá-lo e, portanto, eu só o levaria para onde fosse extremamente necessário.
A D. Margarida mudou minha relação com o Bedelho e a minha mãe me fez enxergar o quão especial ele era (e é).
Ao decorrer dos anos eu e o Bedelho ficamos mais juntos, inseparáveis, mas mais maduros também, mais convenientes.
Eu ainda o meti algumas vezes de forma impensada, na faculdade, no namoro, no trabalho... Mas sempre no intuito de fazer o bem.
Hoje, tenho o Bedelho guardado dentro de mim e ele se alimenta das intempéries da vida. Quando ele engorda muito e transborda, trato de metê-lo em algum lugar, mas agora só o meto aonde tenho certeza que, em algum momento, ele será entendido e bem recebido.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Sou o que sou



  
Já tentei ser Marilyn, Audrey, Margareth, Elizabeth, Cora, Marta... Perdi noites buscando encaixar minha teoria em Locke, Hobbes, Rousseau, Maquiavel, Montesquieu, Weber, Marx e tantos outros mais.
Me procurei em Lollita, Julieta, Iracema, Bovary, Helena, Atena, Artemis, Afrodite, Amélie...
Mas depois de não me encontrar em lugar nenhum, resolvi investir nessa coisa de ser eu mesma.
Eu, com meus encantos e descompassos. Eu, de cara limpa, com tudo o que encontrei por debaixo do lençol.
Usar máscara por muito tempo faz da verdadeira face apenas uma sombra da deformação que se instala, e se já me confundo na observação das minhas verdades, como eu entenderia as mentiras que produziria para disfarçá-las? Demasiado trabalhoso. Complicado além da conta.
Achei justo, portanto, acertar meus ponteiros , colocar os vagões no trilho e me mostrar assim, desse jeito, sem discurso pronto, inventando minhas próprias teorias e me desencaixando do padrão. E que mal há em ser o que somos? Afinal, não é pra isso mesmo que estamos aqui?
Se houvesse uma classificação para meu tipo de tribo, seríamos os híbridos idealistas, uma loucura tão grande quanto o nome. Seriamos Gandhi misturados com Che, teríamos um pouco de Mandela com uma pitada de Elvis. Seríamos como aquelas figurinhas de goma de mascar que misturavam animais: borboruga, cachomelo, girapótamo, macaleão...
Eu sou assim hoje, amanhã me reinvento e depois nem sei.
Mas o divertido da vida é isso: ser o que somos, sem medo. É mais digno, limpo e cheiroso. Ser o que somos é como quando saímos do banho frio em dia quente, é fresco, aliviante e dá vontade de ficar mais. A gente fica mais na gente quando somos o que somos, e os outros também.
Descobri que além de tudo, sendo do jeito que sou, tudo ao meu redor fica de verdade. Nada de mundo falsificado.
E se tudo vira verdade, não tem lugar para o medo, pois ser o que somos é solo firme, onde andamos de olhos fechados.

sábado, 29 de junho de 2013

Linda.



Coisa linda de se ver é o que as palavras dizem. Sentir deslizar o verbo, reverberar o dito, ditar a letra. Letrar os sonhos.
Coisa linda de se ver é o sol nascendo. Nascer de novo, renovar a vida, viver macio...
Coisa linda é reticência... continuar a curva, pular o muro, não parar o mundo.
Coisa linda é viver a melodia, é sentir o dia que nos desafia a propagar amor.

Progredir e ordenar, é só começar!

Eu sempre quis mudar o mundo, por vezes achei que alguém pudesse mudar o meu mundo, mas depois percebi que só eu posso fazer isso (mudar o meu). Talvez seja uma síndrome de Mulher Maravilha, ou talvez eu seja apenas uma pessoa que não gosta de conviver e, portanto, compactuar com a injustiça, ou até mesmo eu não consiga pensar pequeno, quero sempre muito de tudo (a la Cazuza, exagerada).
Tenho percebido que a mudança é possível quando se tem o mínimo de boa vontade, fé e trabalho, gratuito, desmedido e solidário.
Todo mundo sempre fica esperando algo acontecer, ao invés de fazer acontecer e, em função disto, nada sai do lugar. Mas eu cansei.
Cansei de esperar, cansei de pensar que um dia pode mudar, cansei da inércia e da falta de responsabilidade com a vida. Se o sol nasce pra todos, precisamos garantir nosso lugar ao sol. Temos que arar nossa terra, semear boas sementes, colher os frutos e fazer disso tudo uma grande celebração de vida, de conquista, de JUSTIÇA.
Justiça é uma palavra tão minha que eu poderia tatuá-la. Justiça é uma atitude que deveria ser de todos.
Muita coisa que parecia impossível acabou provando o contrário, acabou se tornando possibilidade, apenas pelo fato de alguém ter dado o primeiro passo. Dar o primeiro passo é terreno da loucura, da coragem, do sacrifício, mas é preciso dar, é preciso doar, é preciso amar. Amar o passo, a caminhada e o destino de chegada, é necessário amar o objetivo, com ele comprometer-se e casar-se, só. Simples assim.
Mudar o mundo, aos olhos dos normais, pode parecer utópico, mas eu não sou normal, e eu até me sentiria um tanto desprivilegiada se eu tivesse essa tal de normalidade. Eu sei que posso mudar o mundo, o meu, o seu e o nosso. Será que você pode pensar assim também?
Sabe o que é? É que se você pensar assim, serei uma Mulher Maravilha, cercada de outras Mulheres Maravilhas, auxiliadas por Super Homens, dá pra entender? Viu como não é impossível mudar o mundo?
Ah, esse mundo que eu estou mencionando, é aqui mesmo, ao nosso redor, nem precisa ir pra África ainda para encontrar esse mundo que precisa de mudança. Ele está aqui, contemporâneo, acontecendo, ao nosso redor. Esse mundo está aqui nesse mundo mesmo, nesse redondo que está ficando quadrado de tanto sofrer...
Fazer o bem não dói, é gostoso e dá uma sensação tão leve. Aliás, fazer o bem emagrece (espero que este seja um bom argumento para que alguém se levante pra ajudar), minha ciência comprova.
Não basta querer mudança, tem que fazer a mudança e tem que começar agora. Um dia eu achei que seria loucura levantar sozinha e lutar, mas depois que dei esse danado desse primeiro passo, veio tanta gente dando primeiro passo comigo que hoje algumas coisas sairam da utopia e vieram para a realidade. Sou prova. Dá certo, é possível. Só precisa persistir. E um dia vou estar orgulhosa de você e você de mim.
Por isso, eu digo: PROGREDIR E ORDENAR, É SÓ COMEÇAR.


sábado, 15 de junho de 2013

Manifest[ação]

    Meu primeiro post vem com cobertura de sangue, suor e cansaço. Estamos em um momento de manifestação, de luta por direitos e pelo respeito deles. Hoje 8.000 pessoas se uniram em Belo Horizonte para lutar por mim, outras tantas estão se reunindo em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras cidades do país e do mundo para lutar por mim (e por você!). Mas elas estão sangrando...
    Aprendi que justiça é aquilo que nos faz iguais em direitos e deveres, é aquilo que nos dá liberdade e segurança, mas nesses dias tenho visto que nada disso neste país existe. Aliás, sei que há muito tempo não existe, se é que um dia existiu. Tenho levado alguns tapas morais, enquanto os manifestantes do meu país, muitos deles estudantes, levam tiros, apanham, são presos e agredidos como se fossem bandidos.
    Aqui no meu país bandido é tratado com decoro, enquanto as pessoas que se manifestam contra a repressão e o abuso político são tratadas como bandidos. Aqui no meu país a imprensa é vendida... ela tenta cegar um povo com futebol no horário nobre, pra mostrar o quanto o nosso país é "feliz". Aqui no meu país a imprensa chama os ativistas de outros países de manifestantes e os manifestantes do meu país de vândalos. Neste país as pessoas costumam sentar e falar, ou invés de levantar e lutar e se comprometer com os próprio direitos. Aqui as pessoas tem seus direitos desrespeitados, mas preferem lotar os estádios de futebol ao lotar as ruas e dizer BASTA.
   Os brasileiros chegaram a achar que a democracia existe, mas eu vi que ela está apagada ou também nunca existiu, porque aqui a "justiça" proíbe manifestações.
   Os governantes gastam milhões em estádios enquanto o país afunda em saúde pública precária, eles roubam à vontade enquanto a educação só piora, eles jogam o nosso dinheiro na privada enquanto jogam também a nossa dignidade pelo ralo.
   E quer saber o mais triste??? A CULPA É MINHA E A CULPA É SUA!
   O povo daqui diz que manifestante é desocupado. O povo daqui aceita tudo o que é feito em troca de um jogo de futebol, em troca de uma novela na TV... e tudo isso não é uma questão de educação, ou de classe social, mas de caráter. O povo daqui é vendável, é submisso e não conhece um palmo à frente do seu nariz.
  Hoje criei um evento para organizar uma manifestação na região em que moro e até agora apenas 6 pessoas confirmaram presença. Vai me dizer que isso é culpa do governo?
  O Brasil tem mais de 180 milhões de habitantes, mas as pessoas que querem de verdade um país melhor pra si e para seus filhos não chega a 5%. Mas também, lutar pelo respeito dos nossos direito pra que? Se é mais legal eu postar coisas fúteis no Facebook e ter várias pessoas me curtindo e mostrando o quanto eu sou "famoso (a)"? Aprenda: ser famoso (a) no Facebook é como ser rico no Banco Imobiliário.
  Se hoje você pode mandar e-mails, entrar no Facebook, frequentar uma faculdade, um bar, um cinema, ouvir qualquer música, conversar com amigos numa roda, votar, ter carteira de trabalho assinada e assistir a porcaria da novela ou do futebol, é porque pessoas lutaram por isso, elas estavam insatisfeitas e se levantaram do sofá.
  Estão rindo da sua cara, pisoteando sua moral, destruindo seu futuro e queimando seus sonhos enquanto você acha que tudo o que está acontecendo não tem nada a ver com você.
  Quero viver num país justo, com pessoas justas, governantes justos e povo feliz, mas feliz de verdade. Dá pra você me (se) ajudar? 
   Se o assunto te incomoda, peço desculpas pelo transtorno, mas estou trabalhando para mudar o Brasil.